sábado, 10 de dezembro de 2011

VALE DO SINOS QUER A ÁGUA DO RIO CAÍ

Prefeituras do Vale do Sinos estão de olho nas águas do Rio Caí para amenizar a seca

Um ofício do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Caí (Comitê Caí), entregue esta semana ao Conselho de Recursos Hídricos (CRH) da Secretaria Estadual do Meio Ambiente e divulgado para a imprensa, trouxe à tona uma proposta que deve gerar polêmica entre os vales do Sinos e Caí. O órgão ambiental regional alerta para a possibilidade de aumento da transposição de águas entre as duas regiões, ou seja, que se retire mais água do Rio Caí para abastecer o Sinos, defendida por municípios daquela região, como São Leopoldo, que enfrenta racionamento em virtude da estiagem desde o começo da semana. A Direção de Recursos Hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) confirma a existência da proposta, mas ressalta que nenhuma decisão será tomada sem ampla discussão pública. No documento entregue ao CHR, o Comitê Caí se coloca contra qualquer mudança na transposição que já ocorre hoje no Sistema Salto, composto por três barragens existentes na bacia do Rio Caí, gerenciadas pela Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE). No ofício, a presidente da entidade, Tânia Regina Molina Zoppas, afirma que qualquer medida precisa ser amplamente estudada e debatida antes de ser implementada. "Quem define o uso das águas de uma determinada bacia hidrográfica é o respectivo comitê de gerenciamento da bacia hidrográfica. No caso das águas da bacia hidrográfica do Rio Caí, é o Comitê Caí. São os usuários da água dessa bacia hidrográfica, juntamente com os representantes da população dessa mesma área, bem como os órgãos de governo com atuação na área do Rio Caí, que definem os usos prioritários de suas águas." Em outro ponto do ofício, Tânia destaca que a falta de água no Rio Caí já existe em pontos localizados. No documento do Comitê Caí ela afirma que, com o atual quadro de estiagem que atinge todo o Estado, já existem relatos de ocorrências, na bacia hidrográfica, de falta de água (vazões muito baixas) em vários arroios e inclusive no próprio Rio Caí. "Na semana passada, recebemos relatos da ocorrência de mortes de peixes em alguns cursos d’água da região, fato esse que repassamos ao conhecimento da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) e das secretarias do Meio Ambiente dos municípios mais diretamente envolvidos com as ocorrências."


Montenegro e São Sebastião do Caí em risco

O Comitê Caí destaca ainda que alguns municípios da bacia hidrográfica do Rio Caí tem seu abastecimento público de água a partir do leito das águas. Dentre esses, São Sebastião do Caí e Montenegro, que juntos abastecem aproximadamente 80 mil habitantes, estariam correndo risco de falta de abastecimento caso a transposição seja aumentada. "Qualquer aumento no volume da transposição, em função da estiagem que atinge a região, causará reflexos negativos que serão sentidos ao longo da bacia hidrográfica", destaca a entidade.

A reportagem do Jornal Ibiá procurou os prefeitos de Montenegro, Percival de Oliveira, e de São Sebastião do Caí, Darci Lauermann, ambos do PMDB, para comentar a questão. De acordo com Lauermann, a prefeitura caiense não foi contatada para tratar do assunto. "Para mim, esse movimento dos colegas do Vale do Sinos é novidade. Estranho que eles não tenham feito contato conosco e, com certeza, temos de avaliar com cuidado tudo o que envolve o nosso Rio." O prefeito de Caí destacou ainda que "se estudos técnicos apontarem que não haverá consequências para nossa região, não vejo problema em se mexer nas barragens. Agora, não irei aceitar prejudicar minha comunidade em prol de Novo Hamburgo ou São Leopoldo."
O prefeito de Montenegro tem posição definida sobre a questão. "Somos radicalmente contra o aumento da passagem de água para o Rio dos Sinos e apoiamos o posicionamento do Comitê Caí". Percival de Oliveira salientou que não se pode resolver um problema criando outro. "Conhecemos e entendemos a situação de crise enfrentada pela população do Vale do Sinos, mas temos de pensar na nossa região primeiro."

O Jornal Ibiá procurou os órgãos responsáveis ligados à Prefeitura de São Leopoldo, mas devido ao feriado municipal desta quinta-feira, ninguém foi encontrado.



"Decisão tem de ser tomada em conjunto"

A diretora de recursos hídricos da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), engenheira civil Nanci Begnini Giugno, confirmou a existência da proposta de transposição das águas e a entrega do ofício por parte do Comitê Caí. "Estamos com um problema sério de estiagem, então surgem várias alternativas para contornar a situação. Entre essas possibilidades, está a liberação de mais água do Rio Caí para o Sinos. Porém, ressalto que não existe nada definido, pois a decisão tem de ser tomada em conjunto por todos, os dois comitês, a população e a Sema."

A diretora da Sema destacou ainda que a prioridade do uso da água é sempre o consumo humano.

Fonte: Jornal Ibiá - 09/12/11

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